A enfermagem é, sem dúvida, uma das profissões mais humanas da área da saúde. O contato diário, a escuta ativa e a atenção contínua fazem com que enfermeiros(as) criem laços profundos com seus pacientes. Mas, quando esses vínculos envolvem pessoas em estado terminal, surge um dos maiores desafios da profissão: conciliar a técnica do cuidado com o peso emocional do apego.
O vínculo que nasce no cuidado
Diferente de outros profissionais de saúde, a enfermagem acompanha de perto a rotina dos pacientes: administra medicações, orienta famílias, apoia nos momentos de dor e também compartilha pequenas vitórias. Esse contato constante gera proximidade e afeto.
No caso de pacientes terminais, essa relação se intensifica. O enfermeiro não cuida apenas do corpo do paciente, mas também do seu conforto, da sua dignidade e, muitas vezes, do seu emocional e espiritual.
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) destaca em suas publicações que o vínculo é parte essencial do cuidado, especialmente na área de cuidados paliativos.
O impacto psicológico do apego
Estudos apontam que o apego emocional pode ser um fator de risco para sofrimento moral e burnout em profissionais da enfermagem. Ver um paciente terminal em declínio ou acompanhar o luto da família pode despertar sentimentos de impotência, tristeza e até culpa, mesmo quando o cuidado prestado foi exemplar.
Uma pesquisa publicada na Revista da Escola de Enfermagem da USP (SciELO) reforça que o enfrentamento da morte por enfermeiros pode gerar estresse e desgaste emocional significativos.
Essa dor silenciosa muitas vezes não encontra espaço para ser discutida dentro das instituições de saúde, o que leva muitos profissionais a carregar o peso sozinhos.
O equilíbrio entre humanidade e autocuidado

É preciso reconhecer que o apego não é um problema — ele é parte da essência da enfermagem. O desafio está em encontrar equilíbrio: oferecer cuidado com empatia, mas também preservar a própria saúde mental.
Algumas estratégias importantes incluem:
- Supervisão psicológica em hospitais e clínicas;
- Espaços de acolhimento para compartilhar experiências entre equipes;
- Educação em cuidados paliativos, fortalecendo a preparação emocional e técnica;
- Autocuidado ativo, com momentos de descanso, lazer e apoio social fora do ambiente de trabalho.
De acordo com artigo da Revista Brasileira de Enfermagem (SciELO), a capacitação em cuidados paliativos e espaços de apoio reduzem significativamente o sofrimento moral dos enfermeiros.
🔗 SciELO – Sofrimento moral em enfermeiros de cuidados paliativos
Conclusão
A enfermagem é uma profissão marcada pela entrega e pelo vínculo humano. No entanto, diante de pacientes terminais, o apego pode se tornar um desafio emocional difícil de lidar. Reconhecer essa realidade, criar espaços de apoio e valorizar a saúde mental dos profissionais é fundamental para que o cuidado continue sendo humano, mas sem sacrificar a vida emocional de quem cuida.
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